sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Há mar e mar. E depois há este robalo.




Este texto já foi publicado algures na blogosfera e numa publicação local. Mas uma vez que vos trago pela primeira vez um prato feito com a faina do meu excelso companheiro, achei que devia partilhá-lo convosco. Aqui vai uma visita guiada às profundezas da convivência com o meu Zé do Polvo. Enjoy!

O meu MARido 

O meu marido… A primeira vez que me referi a ele como "o meu marido", tive um ataque de riso, o qual não terá sido muito apreciado por ele. Pior, pior, só o ataque de tosse quando peguei na caneta para assinar “O Contrato” (nota: um ataque de tosse dentro de um corpete e uma saia de balão é uma provação). Eu acho que ele não vai querer festejar as bodas de prata, com receio que desta vez o ataque seja cardíaco.

Mas voltando ao meu marido, é viciado no mar. Poderão dizer que é saudável, proveitoso, relaxante, que há vícios piores. Ok! Podia ser viciado em substâncias estupidificantes, tipo álcool, jogo, o Benfica, mas para isso tinha-me casado com o Manuel Vilarinho. Mas o que vem por acréscimo deste vício do mar, é que torna a questão complicada. Sigam-me:

•Vou fazer uma salada. Vou abrir o frigorífico. Vou abrir a gaveta dos vegetais. O que é que eu encontro entre a rúcula e a courgette: minhocas embrulhadas num jornal, vulgarmente conhecidas por isco. Esquece a salada, vou comprar um frigorífico novo com alarme anti-invertebrados repugnantes.

•O meu marido é lindo. Não quero parecer Luciana Abreu, mas é verdade. Ele é mais uma prova do meu impecável sentido estético. Mas pescar, também é sinónimo de Carnaval, aliás, aqui encaixa-se melhor o Halloween, e já vão perceber porquê. Imaginem a seguinte peça de roupa: jardineiras/galochas. Dois em um, mas sem o odor frutado dos champôs. Em borracha verde, no tom “relva enlameada”. Ah, e não nos podemos esquecer do gorro com tapa-orelhas, que lhe confere o glamour dum lenhador. Tudo isto, num adulto com 38 anos. Isto é que é testar a libido da mulher (provas ultrapassadas com distinção, diga-se em abono da verdade).

• Ele vai pescar à noite. Eu juro que não adormeço até ele chegar, na esperança de lhe incutir algum tipo de sentimento de culpa. É claro que sozinha, acabo por entrar naquela dinâmica vinho tinto alentejano mais telecomando, e adormeço antes de acabar o genérico do episódio especial nº 3333 do CSI qualquer coisa. Acordo estremunhada, enquanto ele irrompe pelo quarto: “Olha, amor, olha!”. O que é que ele traz na mão? Hipótese A: um ramo de rosas vermelhas; Hipótese B: aquele relógio novo da Calvin Klein; Hipótese C: um alguidar de peixe. Sim, a bela pescaria é sinónimo de incenso de escama no meu quarto, às duas da manhã.

Aposto que por agora, já estavam dispostas a aceitar um cônjuge permanentemente etilizado, e cuja segunda casa é o Bingo da Luz, de braços abertos. Pois, mas isso é para quem gosta de facilitismos. As dificuldades a mim não me assustam, gosto de desafios. Aceito esta estrada, sujeita às duras intempéries, características de quem se resignou a casar com um homem simpático, bonito, inteligente, e com escamas debaixo das unhas. Cada um tem a sua cruz!

E é isto. E agora vamos ao "comer": um peixe tão fresco, tão saboroso por si só, deve ser tratado com parcimónia. Esta preparação potencia o sabor natural do belo do robalo, e dá-lhe pontos extra. E é uma beleza e felicidade com as batatinhas, um tabuleiro lindo de se pôr na mesa. E faz-se assim:

Robalo graúdinho com Batatinhas miudinhas, a saltar, a saltar no Tabuleiro

Tempo de Preparação: Isto é coisa para demorar

Despensa:

Azeite
6 cebolinhas às meias luas
3 alhos grandes laminados
1 raminho de cheiros com salsa, coentros e 1 folha de louro verde
1 Robalo com 1,200 kg
Sal e pimenta preta moída q.b.
800 g de batatas pequenas às rodelas (1 dedo de espessura, mais coisa menos coisa)
1 folha de louro verde aos pedacinhos
20 cl de vinho branco
2 rodelas de limão
2 colheres de salsa picada
2 colheres de coentros picados 

A parte divertida:

Liga o forno a 200º. Cobre o fundo de um pirex com um fio generoso de azeite, e espalha as cebolinhas. Tempera o peixe com o sal e a pimenta, enfia o raminho de cheiros dentro da barriga do peixe, juntamente com 1 alho laminado. Coloca o peixe em cima da cebola, no meio do pirex. 

Coloca as batatas numa taça, rega com um fio de azeite, junta dois alhos laminados, a folha de louro aos pedaços, e tempera com sal e pimenta. Remexe, e coloca as batatas a rodear o peixe. Rega tudo com o vinho, e o peixe com um fio de azeite. Salpica com 1 colher de salsa picada e 1 de coentros.

Coloca a meio do forno com um tabuleiro por cima, durante 45 minutos, e vai regando com colheradas de molho,  de 10 em 10 minutos. Tira o tabuleiro de cima, e deixa assar mais 15 minutos. Decore as rodelas de limão, salpica com a salsa e os coentros picados que restam, et voilá!

Post Scriptum: Sim, eu sou uma felizarda, porque o meu fornecedor de peixe só tem peixe de mar, ridiculamente fresco, e é tudo à borliu. Sim, é o senhor que dorme comigo. Posto isto, façam-me um favor: não façam isto com peixe de viveiro. Façam um mealheiro com um desenho de um robalo, e chegado o dia, comprem um robalo de mar. Na lota, que sai mais barato. Caso contrário, mais vale abrir uma lata de atum. Mas isto sou só eu que sou uma fundamentalista, muito graças ao homem da faina que é tão somente o homem da minha vida. E assim me despeço em modo lamechas.



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