terça-feira, 19 de novembro de 2013

#Dia de Folga: Ervilha Maria em Castelo de Vide


Ora fregueses vou directa ao assunto: Marvão é lindo, Castelo de Vide também, e em ambos os sítios come-se muita bem. Assim mesmo, não é gralha, muita bem. Com a boca cheia. De queijo. De enchidos. De migas. De tinto. De sorrisos. De "Isto é que é vida".


Estava um frio do cacete, que estava. Mas havia sol, e sol é coisa que deixa Ervilha Maria feliz, e com vontade de fazer cenas. Pois então, passámos uma tarde a subir e a descer ruas, daquelas que apetecem repetir, mesmo com os gémeos a latejar. Visitámos mais um castelo altaneiro, desta feita o de Castelo de Vide, que tem uma vista do caraças. Passeámos no burgo medieval, como podem observar na foto acima, (mas só a paisagem, que o Zé do Polvo já tem dono, suas gulosas!). Conhecemos a Judiaria, pousio dos cristãos-novos, em tempos de intolerância (gostava de acreditar que esses tempos já acabaram, mas enfim). Recomendo vivamente a visita à sinagoga tornada museu: um sítio com história e alma dentro.


Com o corpo a pedir descanso e um copo de tinto alentejano, em boa hora aceitámos a recomendação dos donos da Estalagem de Marvão, e fomos em busca d' A Confraria, para marcar mesa e apalpar terreno. E foi amor à primeira vista. À entrada um bonito espaço de venda de produtos regionais, com tudo o que há de bom na vida, e mais um par de botas. Ao fundo uma sala de jantar, de estar, de saborear, de ficar. Sentámos, bebemos, fomos mimados com umas bolachinhas salgadas "feitas especialmente para acompanhar o vinho, vejam  se gostam", e já foi a custo que saímos dali. No quarto, ia contando os minutos, pois parecia-me que a coisa tinha tudo para dar certo.


Em casa. Do Senhor Luís e da sua simpática e talentosa esposa. Foi assim que nos fizeram sentir. Com vontade de provar tudo e sem saber por onde escolher, fomos sabiamente aconselhados pelo dono da casa que adivinhou os apetites dos nossos estômagos, antes dos próprios o fazerem. "Vou-vos dar este vinho a provar, se não gostarem abro outro garrafa";"Vejam lá, se quiserem pedir só uma dose, depois logo vêm se apetece mais";  "Ai, a si apetece entrecosto e à menina lombo? Vem um bocadinho de cada, não tem problema." Antes de sequer provar seja o que for, já estava tomada de amores.


Vou tentar ser breve, sem omitir nada, porque esta casa de facto merece que se faça justiça. Tudo o que veio para a mesa, recomendado pelo Senhor Luís e/ou preparado pela esposa vai ficar para a história. Para começo de conversa, toda a refeição foi conduzida por um supimpa "Terras de Fialho" tinto, com preço compatível com ajustamentos. Começámos por uma prova de azeites da região com um pão que era obra, e a azeitona mãe. Passámos a uma tábua de três queijos alentejanos: obscenos de bons. Avançámos sem medos para uma especialidade da casa: sopa de farrapos. É facto que sou adepta de sopa, é para mim o edredon de penas da culinária. Mas esta sopa de legumes, com entulho q.b. e fios de ovos, é coisa para converter qualquer Calvin.


Já a ver a meta ao fundo do túnel, vai de migas "com entrecosto para o senhor e com lombinho para a menina, tudo porco ibérico". Não, não é tão bom como soa. É melhor. Já eu tinha deitado a toalha ao chão, ainda Zé do Polvo se sentia com valentia para enfrentar uma sobremesa. Veio uma laranja à Confraria, o final perfeito para um jantar perfeito: laranja laminada, um fio de azeite, canela em pó, e um rebuçado de Portalegre a coroar. Parece-vos estranho? É pouco bom, é... Café, faxavôr, esmoer precisa-se! "Provem só estas bolachinhas artesanais de alecrim e mel!" Ai, Jesus, que se me apaga a luz! E agora a conta? O medo, o horror, a tragédia... 32 euros. Está tudo dito, não?


Três horas e meia, senhores ouvintes. Num sítio genuinamente bonito, a beber estupendamente, a comer divinalmente, mas não foi só isso. A conversar, a rir, a aprender com o dono de um restaurante onde entrámos pela primeira vez naquele dia, mas seguramente não será a primeira e a última. O Senhor Luís conhece todos os produtos que vende e que a sua mulher confecciona, os seus fornecedores, as adegas, as queijarias, os lagares... Partilha esse saber com os clientes, e apresenta tudo com o orgulho e a convicção que só tem quem sabe que está a vender qualidade, e o faz com paixão. Ervilha Maria e Zé do Polvo acabam a noite com um até já e uma salva de palmas que só não foi sonora por comedimento... e porque não nos atirámos à segunda garrafa de vinho. Aqui fica esse Bravo não verbalizado!


Post scriptum: "Ó Ervilha, isto agora é só boa vida? Não se faz nenhum, compra-se tudo feito, e tal..." Não fregueses, de dia de folga é tudo por agora. Amanhã voltamos ao especial "Como alimentar 45 pessoas...". E vai ser um dia bom. Porquê? Porque temos ervilhas. As simple as that!

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