Salada Hipócrita. Mas Gostosa.

Às vezes, a malta gosta de se enganar. Outras vezes, gosta de ser enganada. Às vezes, nem um nem outro, mas como estavam a jogar Candy Crush Saga quando distribuiriam a inteligência, não se apercebem da intrujice nem que lhes caia em cima, tipo bigorna em cima do Coiote. 

Portanto, chamar salada a um prato de batata com bacon feito na frigideira entra aqui no campo do me engana que eu gosto. Mas tem salsa, e salsa é verde, e verde é salada, certo? Certo. Mantenham a versão, que eu faço o mesmo. E façam como eu, usem para acompanhar com aves grelhadas. Fica um mimo e sempre podem dizer: "Hoje o meu almoço foi uma saladinha com um bifinho de perú grelhado." O uso do diminutivo também ajuda a dar ênfase.

Esta é uma receita que faço desde os primórdios da minha incursão com os tachos. Pertence a um livro que havia em casa da minha mãe das Selecções Reader's Digest (que não sei como se chama, e para grande pena minha se extraviou algures no tempo e no espaço), com o qual comecei a cozinhar, respeitando as receitas com o rigor de uma brigada anti-minas. Sim, eu achava que se alterasse fosse o que fosse, causaria uma onda de destruição estilo Die Hard. Já para não falar que ficaria sem jantar.

Sim, porque a mãe de Ervilha Maria, Gamba Manuela de seu nome, é cozinheira extraordinária, mas para ensinar quem não sabia nada de nada... 

"Mãe, quanto tempo ao lume? Até estar cozido"

"E quanto tempo no forno? Até estar pronto."

"E que quantidade ponho? Vais vendo, até estar bom."

Exacto. 

É claro que agora que já não me sinto um elefante numa loja de porcelana, em frente a um fogão, consigo falar o mesmo dialecto que a minha mãe, e a coisa dá-se. E agora até ela pede umas dicas aqui à Ervilhe Marie, o que me deixa insuflada de orgulho, tipo zepelim. E agora que já falei sobre a melhor mãe do mundo, cá vai o receituário:

Salada de Batata com Bacon

Tempo de Preparação: Comme si, comme ça

Despensa:

500 g de batatas cozidas, cortadas aos cubos

150 g de bacon em cubos

1 cebola picadinha

1 colher de sopa de farinha

1 colher de chá de açúcar

Sal e pimenta preta moída na altura

1 dl de água

1 dl de vinagre de vinho branco

½ pacote de polpa de tomate

Sal e pimenta q.b.

Salsa picada para polvilhar

A parte divertida:     
      

Frita o bacon numa frigideira grande anti aderente, 4 minutos aproximadamente. Retira o bacon, com uma escumadeira, e resrva. Aloura a cebola na gordura do bacon, uns cinco minutos.

Junta à frigideira, em lume brando, a farinha e o açúcar, e tempera com sal e pimenta. Mexendo sempre para não pegar, deita a água e o vinagre, e deixa engrossar durante cerca de 2 minutos.

Adiciona as batatas e o bacon, envolve com cuidado para não esmagar as batatas, e deixa ao lume uns cinco minutos. Polvilha com a salsa picada, et voilá!

Post scriptum: A mistura de vinagre e açúcar pode afugentar os mais cépticos, mas experimentem e vão ficar rendidos. Eu também não sou rapariga religiosa, e às vezes dou por mim: "É pá, este Xico tá um Papa que sim senhor!" Ainda há coisas que conseguem surpreender a minha cínica anterior.