terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Ai Quiche, Quiche...



O Facebook faz 10 anos hoje. Há 10 anos que:

  • Pessoas adultas acham que é boa ideia postar fotos de gatinhos e cãezinhos, como os que eu tinha em bloquinhos de folhinhas cheirosinhas quando andava na Escola Primáriazinha;
  • As pessoas se esqueceram da maravilhosa utilidade de uma janela: olha-se para a rua e vê-se como é que está o tempo. E dada essa amnésia, acham imperioso partilhar as condições climatéricas com o mundo, como se os restantes estivessem fechados num bunker, e fossem necessárias frases como "Chove a potes" ou "Está um calor que não se pode", e fotografias de tabliers com a temperatura, para saber o estado do tempo;
  • O Facebook transformou grande parte (demasiado grande) da malta em gurus de auto ajuda, sempre com frases de ânimo, determinação, verdades absolutas, lemas de vida... Com crianças com um chapéu de chuva, um lindo pôr do sol, uma lua cheia e trampas afins. Um mimo!
  • As pessoas aceitam como "amigos" pessoas com que se cruzaram no liceu, porque até eram amigos da prima da melhor amiga do colega de carteira. Felicitam-se no aniversário, desejam-se Boas Festas, "likam-se" nas fotos de perfil e comentam-se com um "Há quanto tempo!". Depois cruzam-se no supermercado, desviam o olhar incomodados, e não se cumprimentam.
  • Os pais não deixam um puto de 10 anos sozinho em casa mais que 3 minutos, mas deixam-no com o seu Facebook sozinho no quarto mais que 3 horas. Fazem má cara quando um desconhecido dá uma festa na cabeça da filha num parque infantil, e partilham fotos da filha com virtuais conhecidos, que é como quem diz totais desconhecidos. No banho. 
  • E as selfies: que melhor pano de fundo para uma foto sensual a fazer boquinha de pato, do que a zona da latrina? E as fotos do comer: se eu vir alguém a fotografar um prato de massa requentada com atum ou salsichas com esparguete, já é coisa para merecer o meu respeito. E as fotos das pernas da praia, e dos pés na praia, e todas as outras fotos que as pessoas tiram para mostrar que está a ser o máximo, em vez de apreciar o concerto, teatro, praia, vista... E os Villes, e as Sagas e o car... Desculpem, mas cada vez que me aparece um pedido para jogar seja que merda for, dá-me vontade de dizimar aldeias.

Adoro o Facebook, portanto. Não vivo sem ele. Sem ele, e sem esta maravilhosa Quiche. (subtil a ligação, não foi?) E já a devo cozinhar aí há 10 anos, idade que completa o Facebook (como um elefante numa loja de porcelana). De braço dado com uma salada, é um repasto que me deixa para lá de feliz. E também é amiga da marmita. Só qualidades. Como o Facebook... Ou então não. Adiante, cá vai receita:

Massa quebrada, cogumelos, ananás e linguiça, que é como quem diz uma rica Quiche

Tempo de preparação: Comme si, comme ça

Despensa:

Azeite
1 cebola roxa, às meias luas fininhas
2 alhos ralados
2 linguiças, cortadas na vertical e depois às meias luas
250 g de cogumelos de Paris frescos, laminados
Sal e pimenta preta moída q.b.
4 rodelas de ananás em calda, aos pedacinhos
3 ovos grandes
20 cl de natas magras
1 base de massa quebrada

A parte divertida:

Leva uma frigideira ao lume com um fio de azeite, a cebola roxa e o alho, e deixa refogar uns minutos. Junta a linguiça e os cogumelos, tempera com uma pitada de sal e pimenta, e salteia em lume alto durante cerca de 5 minutos. Adiciona o ananás, envolve tudo e salteia mais 3-4 minutos.

Liga o forno a 210º. Bate os ovos com as natas, e uma pitada de sal e pimenta (sem exageros que o recheio já está temperado). Cobre uma tarteira com a massa, pica o fundo com um garfo, e cobre-o com o salteado. Cobre agora com a mistura de ovos, e leva ao forno durante cerca de 30 minutos, ou até o recheio estar cozinhado (pica com um palito para conferir). Et voilá!

Post scriptum: O admirável mundo das quiches é um veículo excelente para aqueles restinhos que estão no fundo do frigorífico. Esta quiche com esta magnífica (gaba-te cesto!) combinação de ingredientes é fruto de uma dessas situações, e transformou-se na minha preferida. Assim, dêem asas à imaginação e à sovinice, fregueses! No poupar é que está o ganho, minha gente!


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